segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A nova correlação de forças em AL

Por Luciano Amorin

As eleições, que no Brasil costumam ser um processo saudável de renovação das representações políticas, em Alagoas toma um caminho um pouco adverso: por aqui, a regra é: quais famílias vencerão em quais municípios, e como ficará o mapa do coronelismo político após as eleições?

Para responder a essa pergunta, basta olhar o resultado das urnas; famílias que há décadas revezam descendentes no poder, mais uma vez conseguiram manter os seus nos executivos municipais. Se há a refrescante renovação dos nomes, nos sobrenomes não muda nada: são as mesmas velhas oligarquias regionais alagoanas em seus mesmos postos.

Dentro desse contexto, pelo menos uma grande mudança ocorreu, fechadas as urnas em sete de outubro: algumas famílias ampliaram seu poder sobre os municípios aos quais governam, enquanto outras tomaram o caminho do definhamento, por conta principalmente da ausência de novos representantes para substituir as velhas raposas.

Sobre esse tema, ninguém simboliza melhor a mudança do que Nivaldo Jatobá, o “faraó” ex-todo poderoso prefeito de São Miguel dos Campos. Em que pese a sua inelegibilidade decidida durante a eleição, o que provocou uma certa revoada de seus votos, Jatobá pagou o preço de não se permitir formar uma nova liderança, o que abriu caminho para o sempre candidato George Clemente imprimir a primeira derrota eleitoral de sua vida. E muito provavelmente a última do senil empresário, já rompendo a barreira dos 80 anos.

Vale lembrar também a derrota histórica da família Damasceno Freitas no sertão; Melina Freitas, atual prefeita, perdeu a reeleição em Piranhas, encerrando assim um dos mais longos processos de sucessão hereditária do estado. No sentido contrário, Celso Luís, ex-presidente da Assembleia Legislativa, denunciado pela justiça como um dos líderes do desvio de 300 milhões da casa, de “taturana” passa a ser agora autoridade: é o novo prefeito de Canapi, também no sertão.

No entanto, para além dos sobrenomes que perduram nos municípios, Alagoas viu surgir ainda uma nova correlação de forças políticas, tendo como lideranças o governador Teotônio Vilela e os senadores Renan Calheiros, Collor e Benedito de Lira. Sob as asas do quarteto, o estado foi loteado, com vistas em 2014, quando Vilela e Collor terão que enfrentar novamente as urnas.

Em números absolutos, ninguém conseguiu eleger mais prefeitos do que o PMDB de Renan. Mais uma vez ressurgido das cinzas e forte no interior, Renan se credencia para assumir o lugar de Vilela em 2014 se quiser, ou permanecer em Brasília, prestando seu pesado apoio a quem desejar pôr no governo. Vilela, por sua vez, mesmo com a máquina estatal, fez somente 17 prefeitos, além de colecionar derrotas simbólicas: Arapiraca, onde jogou todo o seu prestígio político e Penedo, do seu secretário de saúde Alexandre Toledo foram as mais importantes. Em que pese a grande vitória de Rui Palmeira em Maceió, o governador não apita mais sozinho os destinos políticos de seu grupo, e terá que conversar com os aliados para se lançar senador novamente. 

Um deles, mais fortalecido a cada eleição, é o senador Benedito de Lira. De um sem-mandato há alguns anos, Biu a cada pleito se torna o destaque da política alagoana. Derrotou o então fenômeno Heloísa Helena em 2010, e fez sozinho 15 prefeitos em 2012, além do vice-prefeito da capital, Marcelo Palmeira. Fora o prestígio em Brasília, onde ainda manda no ministério das Cidades, Biu pode ser o desequilíbrio da balança eleitoral em 2014, embora uma candidatura sua ao governo seja pouco provável – nesse momento, ressalte-se.

E Collor? O ex fenômeno eleitoral alagoano, ex presidente da república e ainda coronel por essas bandas, vê minguar ainda mais seu arco de poder. Seu partido, o PTB, elegeu somente 8 prefeitos, contabilizando também derrotas simbólicas – como em Traipu, onde anunciou sua candidatura ao governo em 2010, derrotado com seu homem de confiança Marcos Santos (o “barão do São Francisco”). De importante nessa eleição, somente a vitória de Célia Rocha em Arapiraca – embora a relação entre ambos seja nada mais que republicana: não significa apoio daqui a dois anos, principalmente se o agora prefeito Luciano Barbosa entrar na disputa.

Há ainda as pequenas lideranças regionais, dentre elas um que já foi grande: João Lyra, quase governador do estado em 2006, lutando para reverter a falência de seu grupo empresarial, enfrentando a revolta de seus funcionários, ainda teve em seu partido 8 prefeitos vitoriosos – dentre eles, Beto Baia em União dos Palmares, impondo uma derrota ao ex-governador Mano. O vice-governador Nonô amargou o péssimo desempenho do apresentador de TV Jeferson Morais em Maceió, e terá que se contentar com apenas 2 prefeitos filiados ao seu DEM – sendo que um deles, Fernando Pereira (Junqueiro) é “intruso”, pois é sobrinho de Biu de Lira. Pesa a favor do vice um único fator: deixará de ser vice e passa a ser titular em 2014, com a possível renúncia de Vilela.

Dessa nova configuração, sairão os nomes e os nossos representantes nas próximas eleições. Um estado onde a democracia, apesar do voto direto do cidadão, ainda vive acorrentada aos mesmos métodos políticos de cem anos atrás – e também às mesmas famílias.

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