domingo, 15 de março de 2015










A jogadora Marta é um fenômeno à parte. Saiu da pequena cidade de Dois Riachos, no sertão de Alagoas, e ganhou o mundo por meio do brilhante futebol que a credenciou por cinco vezes como a melhor jogadora de futebol feminino do planeta.

Mas essa realidade é uma rara exceção. Falta investimento, patrocínio e políticas públicas eficientes para que outras “Martas” atinjam o grande objetivo de brilhar com a bola nos pés. 

Destaque supremo num esporte masculinizado, a alagoana precisou enfrentar muitos obstáculos para alcançar o sonho de infância.

A garra e superação da rainha Marta

Jogadora Marta. Foto: Divulgação/Facebook

A jogadora descobriu a paixão pelo futebol aos sete anos, nas partidas disputadas nas ruas de chão batido com os primos, no interior de Alagoas. Mas para se destacar mundialmente no futebol, Marta Vieira da Silva teve de deixar a família e a pequena cidade de Dois Riachos com apenas 14 anos.

Decidiu ir para o Rio de Janeiro em busca do sonho de se tornar jogadora profissional. No Rio, defendeu o Vasco da Gama. Passou também pelo Santa Cruz de Minas Gerais, mas o passo que mudaria para sempre a vida da atleta foi dado em 2004.

Com dezoito anos de idade, Marta seguiu para a Suécia, na Europa. Se tornou titular da equipe do Umea IK. Ficou no time por quase seis anos. Marcou 111 gols em 103 partidas. A partir daí, a fama e o sucesso passaram a fazer parte da vida da atleta.

A carreira no clube Sueco não a deu, no entanto, o direito de ganhar os mesmos salários que os jogadores do futebol masculino, mas permitiu que ela tivesse uma vida bem mais confortável do que se tivesse permanecido no Brasil, onde o futebol feminino não avança na mesma velocidade da jogadora.

Marta também passou por times de futebol dos Estados Unidos como o Los Angeles Sol e o Western New York Flash. Nestes clubes americanos e nos da Europa, as jogadoras recebem mais incentivo e valorização. Por lá já existem campeonatos nacionais e internacionais. Enquanto as brasileiras ainda não dispõem de uma liga de futebol feminina profissional, na Suécia, por exemplo, o campeonato nacional é disputado desde 1988.

Com o dinheiro que ganhou como jogadora profissional ajudou a família, que continuou a morar na pacata cidade do interior de Alagoas, onde Marta passa férias para rever os parentes.

Com velocidade surpreendente, dribles cinematográficos, habilidade e intimidade com a bola, Marta ganhou a cobiçada camisa 10 da Seleção Brasileira de Futebol Feminino.

Na seleção, coleciona duas medalhas de ouro dos jogos Pan Americanos (Santo Domingo 2003 e Rio de Janeiro 2007), e duas medalhas olímpicas de prata (Atenas 2004 e Pequim 2008). Com essas conquistas, ganhou os títulos de Rainha Marta, Marta Maravilha e Pelé de saia.

No Estádio Rei Pelé, no bairro do Trapiche, em Maceió, Marta foi homenageada pelo então governador Teotônio Vilela (PSDB). O parlamentar inaugurou o Memorial Rainha Marta, onde está disponível o acervo histórico da jogadora e os troféus conquistados ao longo da carreira.


O futebol feminino em Alagoas

Apesar da incrível trajetória de sucesso, a realidade de Marta é um caso atípico nas terras alagoanas. No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, não há muito o que se comemorar em relação a igualdade de gênero e de direitos no futebol.

Os times de futebol femininos do Brasil, diferente dos clubes europeus, são amadores, e por isso não recebem verbas nem patrocínios para pagarem salários às atletas, que consequentemente não recebem assistência previdenciária.

Faltam recursos básicos para garantir a permanência das alagoanas em seus times. Por isso, muitas delas desistem no meio do caminho. O futebol feminino – esquecido e abandonado – busca a sustentação necessária para revelar outros talentos dentro das quatro linhas.

A alternativa para que times amadores recebam incentivo financeiro é o registro de Clube Amador sem Fins Lucrativos. Para isso foi criada a Lei 11.438/2006, conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte. No decreto está previsto que qualquer pessoa física pode doar até 6% e pessoa jurídica até 1% da dedução fiscal do imposto de renda para projetos desportivos e paradesportivos aprovados pelo Ministério do Esporte.

O problema é que, geralmente, os times de futebol feminino são formados por atletas de baixa renda, da periferia ou das cidades do interior, como Marta, e não contam com equipe jurídica ou administrativa que viabilize as questões burocráticas.

Campeãs alagoanas driblam as dificuldades 

Partida entre União Desportiva-AL e Foz Cataratas-PR.
Foto: Abidias Martins
Nesse cenário crítico surge o União Desportiva Alagoana, fundado em 2004, no bairro Jardim Petrópolis, por Adeilson Cassimiro. O time é o atual campeão Alagoano de Futebol Feminino e o maior destaque do Estado com projeção nacional.

O Clube se filiou à Federação Alagoana de Futebol (FAF) e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2010, quando disputou seu primeiro Campeonato Alagoano e foi campeão. Os outros títulos estaduais vieram em 2013 e 2014.

Com a conquista do último Alagoano, o União obteve acesso para disputar a Copa do Brasil de Futebol Feminino 2015. A equipe está nas quartas de final e tem a artilheira da competição, Geyse da Silva, mais conhecida como "pretinha" com seis gols marcados.

O currículo é invejável para um clube que não está amparado pela Lei de Incentivo ao Esporte. Mas a tarefa de manter o time preparado para participar das competições não é fácil. Sem patrocinadores, as jogadoras não ganham salário. O Campeonato Alagoano de Futebol Feminino não oferece premiação em dinheiro para as atletas, fato que as desmotiva bastante.

Ao invés das jogadoras ganharem com o Campeonato Alagoano, elas e o clube precisam desembolsar dinheiro com pagamentos de anuidades e do registro dos boletins de filiação, que devem estar atualizados junto a FAF. O fundador da equipe, Adeilson Cassimiro, explica que a única vantagem do campeonato é o acesso que é dado ao time vencedor para a Copa do Brasil.

“Por isso, não deixamos de disputar torneios no interior do Estado, onde temos premiações que variam entre dois e três mil reais. É pouco, mas é quando podemos pagar às jogadoras pelo trabalho delas”, desabafou Cassimiro.



União Desportiva-AL - Campeão 2014
Foto: Cortesia/Arquivo do Clube

O “União” faz a força, mas não faz milagre

Unidos e com objetivos em comum, o time completa onze anos de história em 2015. Na bagagem, muitas lutas, quedas, frustrações e o desejo de viver dias melhores. 

As jogadoras, com idade entre 14 e 38 anos, dividem o tempo entre os treinos e os estudos. Algumas trabalham no comércio. Boa parte da equipe mora em Maceió, mas existem outras atletas que percorrem muitos quilômetros em busca do sonho de se tornarem jogadoras profissionais. Maragogi, Passo de Camaragibe, Viçosa, Anadia, Satuba e Novo Lino, cidades do interior de Alagoas, são alguns dos destinos de onde elas saem apenas com a esperança.

“Muitas dessas atletas recebem ajuda de familiares que moram em Maceió. O clube ajuda com o dinheiro para o transporte. Quando não temos, contamos com os amigos que têm carro” destacou Cassimiro.

Felizmente, a pequena, mas eficiente rede de solidariedade ajuda o clube a não cair de vez. Lucas Franklin, estudante de educação física, se dispôs a ser preparador físico das atletas sem ganhar nada em troca. A empresa “Só Esportes” doa os uniformes. Amigos e parentes se reversam nas atividades de carregar os materiais esportivos, distribuir água nos treinos e lavar uniformes.

Médicos e fisioterapeutas ajudam voluntariamente para atender os casos de exames, lesões e contusões decorrentes dos treinos e jogos. O cardiologista Pedro Albuquerque e o neurologista Fernando Gameleira são dois exemplos de profissionais da saúde que se colocam a disposição do time.

Os diretores afirmam que nunca tiveram casos graves de contusão, mas que há um mês, a jogadora titular Jéssica César teve a perna atingida durante um jogo amistoso. Por causa do chute, a atleta teve de ser afastada por trinta dias para receber tratamento com várias medicações. Por enquanto eles contam com a sorte, porque médico exclusivo é um luxo com o qual as atletas não podem contar.

Os casos de risco à saúde do elenco poderiam ser evitados se os treinos não fossem realizados em campos irregulares e esburacados.

O União Desportiva-AL, diferente de outros clubes, trabalha apenas com o futebol feminino. Isto dificulta ainda mais a conquista de um campo próprio. Sem alternativa, a maioria dos treinos técnicos e táticos é realizada em campos emprestados ou, em último caso, na orla da Praia de Pajuçara, em Maceió.

Vídeo: treino na orla.


"Mas como um time que disputa jogos em campos gramados pode se dar bem com treinos na areia?" A pergunta é de um dos membros da diretoria do clube, Alex Galdino. Ele diz que a única exceção só veio depois que as jogadoras conquistaram a vaga para a Copa do Brasil, quando a Secretária Adjunta de Esporte de Alagoas, Claúdia Petuba, cedeu o Estádio Rei Pelé para que o União pudesse treinar durante a competição.

“Tudo muda num campo profissional. A bola corre mais rápida, a agilidade das jogadoras fica diferenciada. O toque de bola mantém outro ritmo. Isso nos faz ganhar muito em qualidade técnica. Todas essas questões fazem total diferença para um jogo de campeonato”, afirmou Galdino.

Jogadoras podem atuar na Seleção Brasileira 

A falta de apoio e incentivo atrapalha muito, mas não é capaz de destruir o sonho das talentosas jogadoras alagoanas.  Quatro delas se destacam pelo brilhante futebol apresentado na última temporada: Bárbara dos Santos, Geyse da Silva – a pretinha –, Brenda Woch e Ingryd Fernanda. Esta é cotada para jogar na Seleção Brasileira Sub-20, aquelas podem ocupar uma posição na Seleção Sub-17.

A “peneira” com as jogadoras foi realizada no Estádio dos Aflitos, em Recife, pelos treinadores da Seleção Brasileira Dorival Bueno Pachêco e Luiz Antonio. Ainda neste semestre será divulgado o resultado com a lista das aprovadas.

Geyse da Silva - Pretinha.
Foto: Abidias Martins
“Venho treinando forte e me dedicando para conseguir vestir a ‘amarelinha’. É o sonho de toda jogadora”, confiante, afirmou “Pretinha”, que é artilheira da Copa do Brasil.

Marta, Taisinha e Neymar são os ídolos da craque do União. A jovem atacante de apenas 16 anos sempre gostou de futebol e por isso já sofreu com o preconceito. O apoio necessário para seguir em frente veio da família.

“Nós, mulheres, sempre passamos por mais dificuldade do que os homens no mundo do futebol. Mas nunca me abati com o preconceito. Tenho o apoio daqueles que me amam de verdade e isso é o mais importante”, declarou a jogadora.

Para os dirigentes, a discriminação que ainda impera no futebol feminino deve ser combatida constantemente.

“As mulheres jogam tão bem quanto os homens. O que falta são oportunidades. Acredito que daqui há vinte ou trinta anos esta realidade será diferente por causa da própria força da mulher”, enfatizou Galdino.

A diretoria acredita que o caminho para reverter o quadro crítico do futebol feminino é o investimento em campeonatos organizados, e o fortalecimento dos clubes nos municípios do interior para descobrir novas atletas.

“Esperamos que o poder público ajude o nosso futebol a sair do sufoco. Chegamos até aqui por esforço próprio e porque amamos o esporte. Não vamos desistir, mas precisamos de valorização”, finalizou Cassimiro.

Falta transparência

Enquanto a Copa do Brasil de Futebol Masculino paga até R$ 7,950 milhões ao campeão de 2015, os clubes do futebol feminino desconhecem o valor da premiação.

Os próprios dirigentes do União Desportiva-AL não sabem o valor que será destinado ao clube caso sejam campeões. Sabem apenas que podem receber troféu e medalhas. No regulamento específico da Copa do Brasil de Futebol Feminino 2015, disponível na Diretoria de Competições, no site da CBF, não existe informação ou confirmação de valores a serem repassados. Veja aqui. 


Parte do regulamento da Copa do Brasil de Futebol Feminino.
Fonte: CBF

Mesmo na incerteza, as jogadoras alagoanas seguem na competição. Alex Galdino reclama da falta de transparência no campeonato. “O valor da premiação, se é que existe, parece que está numa 'caixa preta', ninguém sabe", disse.

A única verba repassada pela CBF, e que está prevista nas normas do campeonato, são cinco mil reais para os gastos das equipes que precisam sair do estado de origem para jogar como visitantes em outros estádios pelo Brasil. O valor não é suficiente para custear despesas com alimentação e hospedagem das atletas.

O dinheiro serve ainda para pagar gastos com locação de vans e de táxis para o deslocamento entre os aeroportos e os locais dos jogos. Em muitos casos, é preciso fazer sacrifícios.

“Já tivemos de fazer mutirão para as refeições e dormir em colchonetes para não abandonarmos o campeonato. Em viagens de até 500 km vamos de ônibus. Acima disso, viajamos de avião. Alguns vôos chegam a ter três conexões. É muito exaustivo para quem disputa um campeonato”, destacou Galdino.

Os problemas da competição vão além. Nas partidas da primeira fase da Copa do Brasil, faltaram requisitos básicos de segurança como médicos e ambulâncias. A iluminação, em um dos jogos em que o União Desportiva-AL disputou com o América-PE, ficou interrompida por oito minutos. Em outras partidas, árbitros não foram pagos.  

Mudanças vão demorar, diz FAF

Entre as equipes da primeira e segunda divisão, e as do futebol amador, são totalizados 60 clubes registrados na Federação de Futebol Alagoano (FAF). Deste número, apenas sete contam com equipes femininas filiadas ao órgão: União Desportiva-AL, Cesmac, Esporte Clube Alagoas (ECA), Sete de Setembro, Oito de março, Universal Futebol Clube e Desportiva Aliança. 

Em 2011 – ano com a maior participação de clubes no Campeonato Alagoano de Futebol Feminino – doze times disputaram a competição. O número caiu para apenas quatro e cinco, em 2013 e 2014, respectivamente.

Para explicar a queda da participação das equipes no campeonato ao longo dos anos, esta reportagem ouviu o vice-presidente de futebol amador da FAF, João Batista. De acordo com ele, a entidade só é responsável pela organização dos campeonatos no Estado, e os times não participam por motivos particulares de cada equipe.

O vice-presidente disse, ainda, que por não haver a participação de grandes clubes, como CRB, CSA, ASA e/ou Coruripe, o campeonato feminino fica enfraquecido. Segundo ele, qualquer clube filiado à FAF pode inscrever a categoria feminina no campeonato estadual.

“Já formalizei convites a todos os clubes da primeira divisão do Campeonato Alagoano. Cheguei a enviar ofícios para as diretorias, mas não adiantou”, disse Batista. Para ele, “se times como CRB e CSA estiverem no campeonato a torcida vai junto e isso pode fortalecer a competição”.

João Batista chama a atenção para um projeto da FIFA, CBF e Ministério do Esporte, no qual está previsto que Alagoas será contemplada com um centro de treinamento para as categorias de base, futebol amador e futebol feminino.

“Os estados que não receberam arenas durante o mundial de 2014 serão contemplados com centros de treinamentos (CTs). A FAF está em busca de um terreno para a CBF comprar e construir o CT. Mas não existe previsão para o início das obras, este é o principal problema”, relatou Batista.

Serão investidos cerca de 100 milhões de dólares em todo o Brasil, quase 300 milhões de reais. Segundo a assessoria de imprensa da FAF, está previsto um repasse de quatro milhões de dólares para Alagoas, o valor equivale a aproximadamente 12 milhões de reais.

“O meu desejo e o da Federação Alagoana é o de que todas as categorias sejam contempladas com melhorias e estrutura adequada. O futebol é um meio de inserção social. Mas com certeza esse não é um projeto rápido, vamos ter que esperar muito ainda”, finalizou o vice-presidente.

O desconhecido futebol americano feminino


Harpias x Alfa. Foto: Cortesia/Arquivo do Clube
          
Se para as jogadoras de futebol – tradicional no Brasil – os caminhos são difíceis, para as atletas que praticam o futebol americano, os problemas são ainda maiores.

O Maceió Harpias Futebol Americano Feminino surgiu por inspiração do time de futebol americano masculino, e foi fundado em novembro de 2012 pela estudante Marcelle Mota. O esporte, que é mais popular nos Estados Unidos, possui três representantes em Alagoas, o masculino, Maceió Marechais; o feminino, Maceió Harpias e outro masculino recém-formado em Arapiraca, o Santana Carcarás.

Harpia é o segundo nome dado à ave de rapina Gavião Real, a maior da América Latina. O nome do time feminino faz referência à força, tamanho e destreza de caça da ave.

As jogadoras pagam mensalidade para manter as despesas básicas do time. Marcelle Mota conta que a maior dificuldade é a falta de apoio e patrocínio que qualquer time necessita para poder crescer, como também a falta de publicidade sobre o futebol americano em Alagoas.

“É muito complicado, porque temos que tirar dinheiro do próprio bolso para a compra de equipamentos, materiais para treinos e uniformes”, destacou Mota. Outro problema é a falta de campo para os treinos. “Treinamos no Parque da Pecuária, no bairro do Trapiche, mas em época de festa no parque, ficamos sem ter para onde ir”, lamentou.

Como a equipe feminina é pequena e não participa de campeonatos, as jogadoras não possuem os próprios materiais individuais como capacete, pad, luva, etc. Quando há necessidade, elas utilizam os equipamentos do time masculino.

O clube vive numa luta constante para fazer com que o esporte cresça e seja aceito. Hoje, o Harpias conta com apenas 15 atletas, mas para as competições oficiais são exigidas, no mínimo, 22 atletas. Como o esporte é pouco conhecido até entre os homens, se torna difícil conseguir novas jogadoras.

Não existem campeonatos de Futebol Feminino Americano no nordeste.  A competição mais evidente da modalidade é o Torneio Nacional de Futebol Americano Feminino “End Zone”, que está na segunda edição, com a participação de seis times, das cidades de Aracajú, Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória e Cuiabá.

“É difícil, mas se baixarmos a cabeça não vamos mudar esse realidade. É necessário seguir em frente para que a força do esporte derrube os preconceitos” disse a presidente do Harpias, Joanna Lessa. "A desvalorização do futebol feminino é generalizada. Isso se deve à educação machista predominante no Brasil", completou.

Joana Lessa acredita que, em primeiro lugar, é preciso desmitificar o esporte, que não é só forca e brutalidade como a maioria das pessoas pensam. “Força é um dos elementos do esporte, mas a inteligência e o raciocínio rápido também fazem parte”, destacou.

O clube passa por um projeto de reestruturação com o objetivo de aderir novas jogadoras, porque muitas se apaixonam pelo esporte e permanecem ativas, outras desistem por causa das dificuldades.

A paixão que surgiu por acaso

Kayalla Barros, ao centro, com a bola em mãos
 Foto: Cortesia/Arquivo do Clube
A universitária de Relações Públicas Kayalla Barros descobriu o futebol americano por intermédio de um amigo, membro do time masculino. Depois de ser convidada várias vezes para conhecer melhor o esporte, decidiu acompanhar um treino. No início foi confuso porque ela não entendia as regras do jogo. Até que participou de um Try Out (seletiva para novos atletas) e entrou para a equipe.

“No meu caso não era, no início, paixão pelo futebol americano. Sempre curti esportes 'agressivos' e cansativos. Depois que aprendi passei a amar o esporte e a me interessar pelas regras mais específicas da minha posição, além de acompanhar campeonatos”, contou a jogadora.

Ela também sente o impacto negativo do preconceito. “As meninas não são incentivadas enquanto crianças a esse tipo de esporte, diferente dos meninos. Quando uma mulher decide se arriscar nesse meio vai contra os pensamentos comuns da sociedade e tem dificuldades”, relatou a atleta.

Kayalla não pretende se profissionalizar como atleta. Assim como ela, a maioria das jogadoras do futebol americano têm suas carreiras encaminhadas em outras profissões e sabem que não podem investir totalmente no esporte.

“O futebol americano no Brasil, principalmente o feminino, ainda não está consolidado. Por isso, pra mim é um hobby”, finalizou a universitária.

Desafios precisam ser superados

De acordo com a psicóloga Silvana Albuquerque, a frustração é algo que está presente na vida de qualquer pessoa que têm seus sonhos interrompidos. A persistência é o melhor caminho para evitar o desestímulo. No entanto, segundo a psicóloga, nem todas as pessoas conseguem lidar com as adversidades.

“O contexto sócio cultural do Brasil não é favorável para as mulheres, mas elas são muito mais determinadas do que os homens quando estão em busca de algo importante. Geralmente enfrentam os desafios de cabeça erguida”, ressaltou a psicóloga.

Segundo ela, é preciso transformar a motivação em ações concretas. “Infelizmente nem todos conseguem, existem pessoas que se fecham quando são desafiadas. Esse é o grande perigo” afirmou a especialista.

Cartão vermelho para o preconceito

Jogadora Marta.
Foto - ONG streetfootballworld

Atualmente, com 29 anos, Marta joga no Rosenberg da Suécia, e foi considerada a mulher mais influente do futebol mundial, de acordo com um estudo desenvolvido pela Agência de Análise de Marketing Repucom. 

A popularidade e o destaque no esporte fizeram com que a atleta alagoana se tornasse embaixadora da boa vontade pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (Pnud). A atleta atua na luta pelo combate a discriminação contra a mulher, e na defesa da emancipação feminina pelo mundo.

Em Alagoas não existem projetos governamentais que priorizem ou sinalizem positivamente para a articulação de políticas sociais que deem notoriedade ao futebol feminino.

É contraditório dizer que no país onde o futebol é paixão nacional, o preconceito seja um obstáculo no caminho das meninas que sonham em ser jogadoras de futebol profissional.

Além de driblar as adversárias dentro de campo, fora dele, elas precisam driblar as críticas, os xingamentos, o preconceito, a discriminação e a truculência de uma sociedade culturalmente mergulhada em conceitos e práticas machistas.

Quantas Martas estão espalhadas por Alagoas? Nos campos de chão batido mais afastados dos holofotes midiáticos podem existir talentos que só precisam de quem as enxergue, de quem as acolha e de quem as dê a oportunidade de mostrar que futebol é, sim, esporte de mulher. 


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Arbitragem com as capitãs.
Foto: Abidias Martins
Partida entre União Desportiva-AL
e Foz Cataratas-PR.
Foto: Abidias Martins


Jogadoras saindo do vestiário.
Foto: Abidias Martins
Poucos torcedores no estádio Rei Pelé.
Foto: Abidias Martins

Técnico passa as instruções para
a jogadora. Foto: Abidias Martins

Hino Nacional.
Foto: Abidias Martins

Pequena torcida presente no estádio
Rei Pelé. Foto: Abidias Martins

Partida entre União Desportiva-AL
e Foz Cataratas-PR.
Foto: Abidias Martins
Partida entre União Desportiva-AL
e Foz Cataratas-PR.
Foto: Abidias Martins
Jogadoras de volta para o segundo tempo.
Foto: Abidias Martins
Harpias x Alfa
Foto: Cortesia/Arquivo do Clube

Harpias Futebol Americano Feminino
Foto: Cortesia/Arquivo do Clube

Harpias Futebol Americano Feminino
Foto: Cortesia/Arquivo do Clube

Harpias Futebol Americano Feminino
Foto: Cortesia/Arquivo do Clube

Harpias Futebol Americano Feminino
Foto: Cortesia/Arquivo do Clube

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